Reatividade nos Cães: Causas, Tipos e Soluções

Reatividade nos Cães: Causas, Tipos e Soluções

A reatividade é um dos desafios mais comuns e frustrantes que muitos tutores enfrentam ao tentar compreender e lidar com o comportamento dos seus cães. Aquele latido constante quando um outro cão se aproxima, o puxar descontrolado da trela quando vê um carro a passar, ou até mesmo o comportamento reservado e defensivo perante estranhos, podem ser sinais de reatividade. Mas o que é exatamente a reatividade e como podemos resolvê-la? Vamos explorar este tema com detalhe, abordando os diferentes tipos de reatividade, os exemplos mais comuns e, claro, como trabalhar de forma eficaz para resolver este comportamento.

 

O que é a Reatividade?

Reatividade é a resposta exagerada ou desproporcional de um cão a determinados estímulos ou situações. Essa resposta pode variar desde comportamentos como latidos, rosnados, tentativas de fugir, até comportamentos mais extremos como investidas ou mordidas. Basicamente, quando um cão é “reativo”, ele está a reagir de forma intensa a algo que considera perturbador, ameaçador ou excitante.

Existem dois tipos principais de reatividade: reatividade por medo e reatividade por excitação. Embora possam parecer semelhantes na superfície, as motivações por detrás de cada uma são diferentes, e isso influencia diretamente a abordagem que devemos adotar para resolver o problema.

 

Reatividade por Medo

A reatividade por medo surge quando um cão se sente ameaçado ou inseguro perante determinados estímulos ou situações. Esta forma de reatividade é geralmente o resultado de uma socialização inadequada, experiências traumáticas ou até predisposições genéticas. Cães que reagem por medo estão a tentar aumentar a distância entre eles e o estímulo que os assusta.

 

Exemplos de Reatividade por Medo

 

  1. Reatividade a Outros Cães: Um cão que reage com medo quando vê outro cão na rua pode começar a latir, rosnar ou até mesmo tentar fugir. Ele pode ter tido uma experiência negativa anterior com outro cão, ou simplesmente não foi exposto de forma gradual e positiva a outros cães quando era um cachorro.
  2. Reatividade a Pessoas Estranhas: Alguns cães mostram reatividade quando se deparam com pessoas desconhecidas. Podem recuar, ladrar ou mostrar sinais de stress, como lamber os lábios ou arrepiar o pelo. Isto pode ser causado por uma má socialização ou por uma experiência traumática.
  3. Reatividade a Sons Inesperados: Sons altos ou inesperados, como trovões ou fogos de artifício, podem desencadear uma reação de medo num cão reativo. Estes cães podem começar a tremer, esconder-se ou tentar escapar do local onde estão.

 

Reatividade por Excitação

Por outro lado, a reatividade por excitação é motivada pela antecipação de algo que o cão deseja, mas não consegue aceder. Este tipo de reatividade pode ser visto em cães que se tornam excessivamente excitados ao verem outros cães, pessoas ou até mesmo ao estarem perante certos estímulos como carros em movimento.

 

Exemplos de Reatividade por Excitação

 

  1. Reatividade a Outros Cães Durante o Passeio: Um cão que se excita ao ver outro cão pode começar a puxar a trela, saltar ou latir incessantemente. Este comportamento não é motivado por medo, mas sim pelo desejo de interagir com o outro cão, ainda que de forma inapropriada.
  2. Reatividade a Pessoas Conhecidas: Alguns cães podem mostrar uma reação intensa ao ver um amigo ou membro da família, saltando, choramingando ou mesmo correndo em círculos. Este comportamento é uma expressão de excitação, não de medo.
  3. Reatividade a Carros ou Bicicletas: Cães que correm atrás de carros ou bicicletas podem estar a reagir pela excitação de perseguir um objeto em movimento. Embora possa parecer uma forma de agressão, na verdade é um comportamento instintivo de caça que foi mal canalizado.

 

Causas da Reatividade

As causas da reatividade podem variar dependendo do tipo e do indivíduo, mas aqui estão algumas das mais comuns:

  1. Falta de Socialização: Cães que não foram devidamente socializados durante o período crítico de desenvolvimento podem ter mais dificuldade em lidar com estímulos novos ou desconhecidos.
  2. Experiências Negativas Passadas: Um cão que teve uma experiência traumática, como um ataque de outro cão ou um susto forte, pode associar determinados estímulos a esse trauma.
  3. Genética: Algumas raças são naturalmente mais vigilantes e propensas à reatividade devido à sua herança genética.
  4. Satisfação das Necessidades Genéticas: Caso o cão não tenha estimulação fisica e mental suficientes para satisfazer as suas necessidades pode desenvolver comportamentos reativos fruto do seu desequilíbrio emocional.
  5. Sono: A falta de descanso adequado pode levar a que o cão fique mais temperamental, podendo aumentar a propensão par a reatividade.
  6. Medo e Ansiedade: O medo é uma das causas mais comuns de reatividade. Um cão que se sente ameaçado pode reagir para afastar o que ele percebe como um perigo.
  7. Frustração: Cães que não conseguem chegar até um estímulo que os interessa podem ficar frustrados, resultando em comportamento reativo.

 

Entender os 4 Quadrantes do Condicionamento Operante

A boa notícia é que, com paciência, consistência e uma abordagem adequada, é possível reduzir significativamente ou até eliminar a reatividade num cão. A chave para comunicarmos melhor com o nosso cão está em entender os princípios do condicionamento operante e aplicá-los de forma eficaz.

 

O que é o Condicionamento Operante?

 

O condicionamento operante é uma teoria do aprendizado que explica como os comportamentos podem ser moldados através de consequências. Existem quatro quadrantes principais no condicionamento operante:

  1. Reforço Positivo: Adicionar algo agradável para aumentar a probabilidade de um comportamento se repetir. Exemplo: Dar um petisco ao cão quando ele se comporta de forma calma ao ver outro cão.
  2. Reforço Negativo: Remover algo desagradável para aumentar a probabilidade de um comportamento se repetir. Exemplo: Afrouxar a trela quando o cão para de puxar.
  3. Correção Positiva: Adicionar algo desagradável para diminuir a probabilidade de um comportamento se repetir. Exemplo: Usar um som desagradável para interromper o latido.
  4. Correção Negativa: Remover algo agradável para diminuir a probabilidade de um comportamento se repetir. Exemplo: Parar a interação com o cão quando ele se excita demais.

 

Dessensibilização e Contra-condicionamento

Existem duas técnicas essenciais no tratamento da reatividade: dessensibilização e contra-condicionamento.

  • Dessensibilização: Este processo envolve expor gradualmente o cão ao estímulo que causa reatividade, mas num nível tão baixo que não desencadeie a reação indesejada. Com o tempo, o cão começa a perceber que o estímulo não é tão ameaçador ou excitante como ele pensava, e a sua resposta emocional torna-se menos intensa.
    • Exemplo de Dessensibilização: Se um cão é reativo a outros cães, pode começar por observá-los à distância, onde ainda se sente seguro. Aos poucos, essa distância pode ser reduzida à medida que o cão se torna mais confortável.
  • Contra-condicionamento: Esta técnica complementa a dessensibilização, associando o estímulo que causa a reatividade a algo positivo, como petiscos ou brincadeiras. O objetivo é mudar a associação do cão com o estímulo de negativo (ou excessivamente excitante) para positivo.
    • Exemplo de Contra-condicionamento: Se um cão é reativo a pessoas estranhas, pode ser útil recompensá-lo com petiscos sempre que ele vê uma pessoa desconhecida, mas sem que a pessoa se aproxime de imediato. Com o tempo, o cão começará a associar a presença de estranhos a algo positivo.

 

Um Plano de Ação para Resolver a Reatividade

Vamos agora combinar todos os conceitos que abordámos num plano de ação prático para resolver a reatividade do seu cão:

  1. Identificação dos Estímulos: O primeiro passo é identificar os estímulos que desencadeiam a reatividade do seu cão. É outro cão? Um carro? Uma pessoa? Um som específico?
  2. Gestão do Ambiente: Enquanto trabalha na reatividade, é importante evitar a exposição direta a esses estímulos sempre que possível. Isso evita que o comportamento reativo seja reforçado e dá-lhe mais controlo sobre o processo.
  3. Introdução Gradual (Dessensibilização): Comece por expor o seu cão ao estímulo a uma distância ou intensidade que não desencadeie uma resposta reativa. Aumente gradualmente a proximidade ou intensidade ao longo do tempo.
  4. Reforço Positivo (Contracondicionamento): Sempre que o seu cão se comportar de forma calma na presença do estímulo, recompense-o generosamente. Use petiscos de alta qualidade, brinquedos ou qualquer coisa que o seu cão adore.
  5. Exercício e Descanso: Proporcionar a devida estimulação fisica e mental bem como um descanso adequado são fundamentais para um temperamento equilibrado.
  6. Consistência e Paciência: Resolver a reatividade não acontece da noite para o dia. Requer prática constante e paciência. É importante ser consistente nas suas abordagens e nunca forçar o seu cão a enfrentar o estímulo de forma brusca.
  7. Consulta com um Treinador Profissional: Se a reatividade do seu cão for particularmente grave, pode ser útil trabalhar com um treinador de cães profissional. Eles podem oferecer orientação personalizada e ajudar a ajustar o plano conforme necessário. Contacta-nos para mais informações sobre como te podemos ajudar.

 

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Nota Final

A reatividade nos cães pode ser um desafio, mas com paciência, consistência e as técnicas certas, é possível ajudar o seu cão a reagir de forma mais calma e controlada. Lembre-se de que cada cão é único, e o que funciona para um pode não funcionar para outro. O mais importante é criar um ambiente seguro e positivo para o seu cão, onde ele se sinta confortável e confiante.

Com o tempo e o treino adequado, o seu cão pode aprender a lidar melhor com os estímulos que hoje o fazem reagir, tornando as caminhadas e o convívio social muito mais agradáveis para ambos.